Planejamento
É preciso pensar nos idosos
Estudo da UFPel, em parceria com universidade britânica, aponta demandas de Pelotas e outros locais em relação à terceira idade
O brasileiro está vivendo mais e, por consequência, exige-se que a vida produtiva também seja estendida. Mas, para que essa lógica funcione, é preciso também que se pense na velhice de forma afetiva, adaptando as cidades para essa população cada vez maior. Em parceria com o Fundo Newton, o Conselho de Pesquisa Econômica e Social (ESRC) e s Universidades Heriot-Watt em Edimburgo, no Reino Unido, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) apresenta agora os resultados do estudo Projetando lugares com idosos: rumo às comunidades amigas do envelhecimento.
O estudo teve início em 2016 e analisou características físicas e afetivas de três cidades brasileiras - Pelotas, Belo Horizonte e Brasília - e três britânicas - Manchester, Glasgow e Edimburgo. Uma reunião, a ser realizada no dia 30 de agosto no país europeu, pretende reunir as conclusões chegadas a partir da análise de como lugares com histórias, realidades e construções culturais e sociais tão diferentes encaram um mesmo problema. Na Princesa do Sul, foram entrevistados 500 moradores de três localidades: Centro, Fragata e Navegantes. Eles responderam questionários, participaram de entrevistas e foram ativos na pesquisa ao ficar uma semana inteira com uma máquina fotográfica para registrar tudo aquilo que enxergam como importante - positiva e negativamente - no cotidiano.
De acordo com a coordenadora do estudo no Brasil, a professora da UFPel Andressa Portella, entre os dois países, a principal diferença é qual a demanda deve ser priorizada. Por aqui, ela diz, é preciso que se repense a infraestrutura oferecida, principalmente, em relação ao transporte público. “Nos três municípios percebemos que os idosos preferem andar de ônibus do que táxi e até mesmo carro particular, porque no coletivo encontram os amigos, socializam. Isso é muito importante para eles. Mas é preciso que o acesso seja facilitado. Não são todos que conseguem, por exemplo, subir os degraus. Seria preciso pensar em uma forma para que pudessem entrar sem esse esforço”, comenta.
Outra questão a ser debatida é a qualidade das calçadas. Na opinião de Andressa, seria necessário que tais estruturas fossem mais largas e pavimentadas, para que os idosos pudessem aproveitar a vida a pé com mais segurança e conforto. No Brasil, ao contrário do Reino Unido, não é o Poder Público o responsável pela manutenção das calçadas, mas sim os próprios moradores. “Mas como exigir isso de pessoas que, por muitas vezes, gastam quase toda a renda com remédios e seguro de vida?”, indaga a professora.
Se no Reino Unido, a questão estrutural das cidades parece superada, o lado afetivo do trato com idosos aparece com um problema - grave como não aparenta ser no Brasil, por exemplo. “Nas três cidades brasileiras se mostrou positivo o apoio familiar, o envolvimento com o dia-a-dia de filhos e netos. E isso é importantíssimo. No Reino Unido, eles acabam ficando em casa, muitas vezes isolados do contato com outras pessoas”, comenta a professora Andressa.
Futuro
A ideia é que o estudo não fique trancado dentro das universidades. Os pesquisadores pretendem criar uma linha de diálogo com o Poder Público, para que as demandas apresentadas sejam efetivamente implementadas, ainda que futuramente. A longo prazo, planeja-se a criação de um guia para o trato das cidades com os idosos.
Está em andamento também a sequência do estudo, na Índia. Já estão sendo visitados também três cidades do país, dono de uma das maiores desigualdades sociais do mundo. Os resultados devem sair em breve.
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